30/03/2014 04h41 - Atualizado em 30/03/2014 13h35
Cartas
censuradas pelo nazismo são encontradas em colégio no Paraná
Correspondências foram
enviadas por uma religiosa que vivia em Londrina.
Material foi encontrado por voluntários que organizam o acervo do colégio.
Material foi encontrado por voluntários que organizam o acervo do colégio.
A
organização do acervo do Colégio Mãe de Deus, em Londrina, no norte do Paraná, revelou aos voluntários uma descoberta
histórica. Cartas que haviam sido enviadas por uma freira, entre 1939 e 1941,
endereçadas a parentes dela na Alemanha, estavam guardadas entre os pertences
da religiosa. As correspondências nunca chegaram ao destino, pois foram
censuradas pelo governo nazista.
As cartas
escritas pela freira de Schoenstatt irmã Mariavirgo foram devolvidas ao
colégio quase 50 anos depois de serem remetidas. Com a descoberta, os materiais
devem ir para o acervo do colégio, fundados em 1936.
A irmã
Mariavirgo, nome que faz referência a Virgem Maria, se chamava Gabriele Moser. Ela
veio da Alemanha para o Brasil em 1935, junto com outras religiosas. Depois,
chegou a Londrina um ano depois, vinda de Jacarezinho, também no norte do Paraná.
O
destinatário descrito nos envelopes é o pai de Gabriele, Ludwig Moser, morador
da pequena cidade de Geislingen. Foram encontradas três
correspondências, todas apresentando o selo de censura do Terceiro Reich.
Cartas foram escritas pela Irmã
Mariavirgo, que chegou ao
Brasil em 1935 (Foto: Arquivo/Colégio Mãe de Deus)
Brasil em 1935 (Foto: Arquivo/Colégio Mãe de Deus)
A
religiosa conta aos pais que ficava encantada com o céu da cidade durante
a noite, permitindo ver muito bem as estrelas. “As estrelas são muito lindas,
principalmente o Cruzeiro do Sul, que a gente pode ver de uma maneira
admirável", escreveu, desenhando no papel a imagem da constelação.
Nas
outras correspondências, o conteúdo é parecido, mesclando a preocupação da
situação dos pais na Alemanha, contando a rotina no Colégio Mãe de Deus, como a
chegada de novas religiosas, e lembrando outros familiares e amigos.
Na carta
datada de 25 de março de 1941, ela lamenta por não conseguir escrever antes.
“Não pude com isso cumprimentar o pai pelo aniversário de 60 anos, mas eu não
esqueci. O bom Deus ainda conceda muitos anos de vida, saúde e alegria.”
Ela ainda agradece pelas cartas recebidas no período. “Eu gostaria de dizer um
Deus lhes pague pelas duas cartas que enviaram. Os senhores me causaram muita
alegria”, relata.
Nas
outras correspondências, o conteúdo é parecido, mesclando a preocupação da
situação dos pais na Alemanha, contando a rotina no Colégio Mãe de Deus, como a
chegada de novas religiosas, e lembrando outros familiares e amigos.
Na carta
datada de 25 de março de 1941, ela lamenta por não conseguir escrever antes.
“Não pude com isso cumprimentar o pai pelo aniversário de 60 anos, mas eu não
esqueci. O bom Deus ainda conceda muitos anos de vida, saúde e alegria.”
Ela ainda agradece pelas cartas recebidas no período. “Eu gostaria de dizer um
Deus lhes pague pelas duas cartas que enviaram. Os senhores me causaram muita
alegria”, relata.
Cartas apresentam o carimbo com o símbolo do alto
comando das Forças Armadas do governo nazista
(Foto: Rodrigo Saviani/G1)
comando das Forças Armadas do governo nazista
(Foto: Rodrigo Saviani/G1)
A censura
Nos envelopes está inscrições mencionando que as cartas foram abertas e passaram por um censor. Uma delas tem o adesivo escrito "censor 1162", número referente provavelmente ao funcionário que violou a correspondência. Também são vistos vários carimbos do alto comando das Forças Armadas do governo nazista.
Nos envelopes está inscrições mencionando que as cartas foram abertas e passaram por um censor. Uma delas tem o adesivo escrito "censor 1162", número referente provavelmente ao funcionário que violou a correspondência. Também são vistos vários carimbos do alto comando das Forças Armadas do governo nazista.
Para a
irmã Maria Fernanda Balan, a censura pode ser motivada porque o Brasil não era
um aliado da Alemanha na guerra. “As irmãs também sofriam preconceito aqui,
porque aqui tudo o que era alemão era odiado. Se generalizava que os alemães
provocaram a Segunda Guerra Mundial", opina.
Outro
motivo é o fato de a carta ser escrita por uma religiosa do movimento de
Schoenstatt, fundado pelo padre José Kentenich que se posicionava contra o
nazismo. “Ele foi perseguido pelo sistema nazista por ser um líder, uma pessoa
que exercia influência social na Alemanha”. Kentenich ficou preso por
três anos em um campo de concentração próximo a Munique, sendo libertada
por causa do fim a guerra.
“Padre
Kentenich viu que era necessário formar um novo tipo de homem, um novo tipo de
personalidade, baseada pela liberdade, educada pelo amor, em contraposição ao
sistema da época”, explica a irmã Maria Fernanda.
Acervo
histórico
As cartas devem fazer parte de um acervo histórico, que está sendo montado pelo Colégio Mãe de Deus. “Inicialmente, estamos fazendo um o processo de catalogação e de levantamento histórico, resgatando materiais que fazem parte dessa história de quase 80 anos”, explica o arquivista Amauri Gomes.
As cartas devem fazer parte de um acervo histórico, que está sendo montado pelo Colégio Mãe de Deus. “Inicialmente, estamos fazendo um o processo de catalogação e de levantamento histórico, resgatando materiais que fazem parte dessa história de quase 80 anos”, explica o arquivista Amauri Gomes.
“Essas
cartas fazem parte da história de Londrina, contam como era a cidade poucos
anos depois da fundação. Então, é de grande importância localizar esse material
e apresentar aos moradores”, afirma a voluntária Elenice Dequech, que auxilia
no trabalho.
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