sexta-feira, 16 de maio de 2014

Cartas Nazistas

30/03/2014 04h41 - Atualizado em 30/03/2014 13h35
Cartas censuradas pelo nazismo são encontradas em colégio no Paraná

Correspondências foram enviadas por uma religiosa que vivia em Londrina.
Material foi encontrado por voluntários que organizam o acervo do colégio.


A organização do acervo do Colégio Mãe de Deus, em Londrina, no norte do Paraná, revelou aos voluntários uma descoberta histórica. Cartas que haviam sido enviadas por uma freira, entre 1939 e 1941, endereçadas a parentes dela na Alemanha, estavam guardadas entre os pertences da religiosa. As correspondências nunca chegaram ao destino, pois foram censuradas pelo governo nazista.
As cartas escritas pela freira de Schoenstatt irmã Mariavirgo foram devolvidas ao colégio quase 50 anos depois de serem remetidas. Com a descoberta, os materiais devem ir para o acervo do colégio, fundados em 1936.
A irmã Mariavirgo, nome que faz referência a Virgem Maria, se chamava Gabriele Moser. Ela veio da Alemanha para o Brasil em 1935, junto com outras religiosas. Depois, chegou a Londrina um ano depois, vinda de Jacarezinho, também no norte do Paraná.
O destinatário descrito nos envelopes é o pai de Gabriele, Ludwig Moser, morador da pequena cidade de Geislingen. Foram encontradas três correspondências, todas apresentando o selo de censura do Terceiro Reich.



Cartas foram escritas pela Irmã Mariavirgo, que chegou ao
Brasil em 1935 (Foto: Arquivo/Colégio Mãe de Deus)

A religiosa conta aos pais que ficava encantada com o céu da cidade durante a noite, permitindo ver muito bem as estrelas. “As estrelas são muito lindas, principalmente o Cruzeiro do Sul, que a gente pode ver de uma maneira admirável", escreveu, desenhando no papel a imagem da constelação.
Nas outras correspondências, o conteúdo é parecido, mesclando a preocupação da situação dos pais na Alemanha, contando a rotina no Colégio Mãe de Deus, como a chegada de novas religiosas, e lembrando outros familiares e amigos.
Na carta datada de 25 de março de 1941, ela lamenta por não conseguir escrever antes. “Não pude com isso cumprimentar o pai pelo aniversário de 60 anos, mas eu não esqueci. O bom Deus ainda conceda muitos anos de vida, saúde e alegria.” Ela ainda agradece pelas cartas recebidas no período. “Eu gostaria de dizer um Deus lhes pague pelas duas cartas que enviaram. Os senhores me causaram muita alegria”, relata.
Nas outras correspondências, o conteúdo é parecido, mesclando a preocupação da situação dos pais na Alemanha, contando a rotina no Colégio Mãe de Deus, como a chegada de novas religiosas, e lembrando outros familiares e amigos.
Na carta datada de 25 de março de 1941, ela lamenta por não conseguir escrever antes. “Não pude com isso cumprimentar o pai pelo aniversário de 60 anos, mas eu não esqueci. O bom Deus ainda conceda muitos anos de vida, saúde e alegria.” Ela ainda agradece pelas cartas recebidas no período. “Eu gostaria de dizer um Deus lhes pague pelas duas cartas que enviaram. Os senhores me causaram muita alegria”, relata.


Cartas apresentam o carimbo com o símbolo do alto
comando das Forças Armadas do governo nazista
(Foto: Rodrigo Saviani/G1)

A censura
Nos envelopes está inscrições mencionando que as cartas foram abertas e passaram por um censor. Uma delas tem o adesivo escrito "censor 1162", número referente provavelmente ao funcionário que violou a correspondência. Também são vistos vários carimbos do alto comando das Forças Armadas do governo nazista.
Para a irmã Maria Fernanda Balan, a censura pode ser motivada porque o Brasil não era um aliado da Alemanha na guerra. “As irmãs também sofriam preconceito aqui, porque aqui tudo o que era alemão era odiado. Se generalizava que os alemães provocaram a Segunda Guerra Mundial", opina.
Outro motivo é o fato de a carta ser escrita por uma religiosa do movimento de Schoenstatt, fundado pelo padre José Kentenich que se posicionava contra o nazismo. “Ele foi perseguido pelo sistema nazista por ser um líder, uma pessoa que exercia influência social na Alemanha”. Kentenich ficou preso por três anos em um campo de concentração próximo a Munique, sendo libertada por causa do fim a guerra.
“Padre Kentenich viu que era necessário formar um novo tipo de homem, um novo tipo de personalidade, baseada pela liberdade, educada pelo amor, em contraposição ao sistema da época”, explica a irmã Maria Fernanda.
Acervo histórico
As cartas devem fazer parte de um acervo histórico, que está sendo montado pelo Colégio Mãe de Deus. “Inicialmente, estamos fazendo um o processo de catalogação e de levantamento histórico, resgatando materiais que fazem parte dessa história de quase 80 anos”, explica o arquivista Amauri Gomes.

“Essas cartas fazem parte da história de Londrina, contam como era a cidade poucos anos depois da fundação. Então, é de grande importância localizar esse material e apresentar aos moradores”, afirma a voluntária Elenice Dequech, que auxilia no trabalho.

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